Uma tensão constante da minha infância, briga recorrente e feia, que me levou às lágrimas em vários diferentes episódios, e sobre a qual escrevi várias vezes - em especial na passagem para a adolescência - é a do significado de maturidade. Essa maturidade: a do fruto que cai do pé de uma etapa da vida e “vá com Deus”. A das transformações exigidas em determinados pontos do desenvolvimento humano: da infância para a adolescência, e por seguinte para vida adulta. É fato que o crescimento pessoal implica em um processo constante de maturação e transformação de idéias, e essa não era a questão. O foco era quais idéias especificamente marcavam essas transições.
Eu não sei a resposta. E para essa reflexão ela pouco importa. O importante é que eu lembrei o motivo da briga, do desespero que transbordava em lágrima.
Na entrada da maioridade escrevi sobre os “resignados”, que eram a minha versão de pessoa madura; alguém que tinha abandonado seus sonhos. Maturidade era arranjar um emprego (de preferência estável), ter amigos influentes (mesmo que isso implicasse em vênias baixas de expor o cu ao vento) e gastar o tempo
que sobrasse dessa vida de bajulação e conformação exterior procurando prazer em sexo e orgulho sobre bens materiais.
Minha briga era na verdade uma resistência à idéia de que a transição para a vida adulta significava aceitar a realidade de um materialismo cínico e medíocre.
O ponto é que, longe desse ter sido um erro de percepção puro e simples da minha mente juvenil, a idéia da maturidade como o sacrifício de suas aspirações no altar da mediocridade é, de fato uma idéia séria e corrente na sociedade; criando um estado de coisas onde todos os esforços do indivíduo só fazem sentido se direcionados para atingir algum objetivo desse esquema de vida miserável.
E, de longe, numa percepção assim meio de fresta, essa idéia materialista de maturidade me parece na verdade - envolta numa crosta de auto enganação - uma forma extremamente elaborada de depressão.