quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Crônica incompleta de uma infância não tão distante

Lembro que quando menino, do tipo pré-se-já-ao-menos-isso-adolescente, fui convidado à festa da minha prima, outra desses pré-qualquer-coisa. Eu não era lá muito de festas, e naquela época tocavam axé em tudo quanto é boite de festinha - que eram sempre armadas de improviso nas garagens e salas de estar. Perdido no meio daquele terreno alienígena eu me esforçava em imitar os passos das danças, temendo revelar que era de vero eu o E.T. do lugar. Mui sábio que me achava, escolhi um modelo que me parecia nativo do planeta e macaqueei desengonçado cada um de seus passos. Mas, numa perfeição cômica de inépcia social, escolhi imitar logo uma garota.

Acho que foi cena muito bizarra mesmo aquele G.I. Joe mal articulado, em concentração escolástica, requebrando até o chão com o mindinho no canto dos lábios. Tudo ao som de “É o Tcham”.

domingo, 10 de agosto de 2014

O Despertar de Magalhães - O Retorno

Eu notei, que tem um post aí embaixo, com o obscuro título de “O Despertar de Magalhães”, e eu gostaria de declarar que foi um engano e não uma das minhas comuns frescurites por referências turvas.

Acabou virando outra coisa, mas era para ser um comentário sobre como Savatage é uma das poucas bandas, muito por causa de Paul O'Neill, que tem qualidade quase literária nas músicas.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Sobre amor

Vim pensando se houve de fato uma época, em que amor era entendido por uma coisa muito mais estranha; simples e por isso mesmo sólida. Uma decisão que não podia ser revogada, ancorada no instante minúsculo em que duas almas se reconhecem por sua forma imortal.

Pois me parece atualmente que a idéia comum é a de um jogo intrincado de vaidades a serem satisfeitas; tão estável quanto perfeita é a simbiose ou alternância entre um ego e o outro.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O despertar de Magalhães

Uma tensão constante da minha infância, briga recorrente e feia, que me levou às lágrimas em vários diferentes episódios, e sobre a qual escrevi várias vezes - em especial na passagem para a adolescência - é a do significado de maturidade. Essa maturidade: a do fruto que cai do pé de uma etapa da vida e “vá com Deus”. A das transformações exigidas em determinados pontos do desenvolvimento humano: da infância para a adolescência, e por seguinte para vida adulta. É fato que o crescimento pessoal implica em um processo constante de maturação e transformação de idéias, e essa não era a questão. O foco era quais idéias especificamente marcavam essas transições.

Eu não sei a resposta. E para essa reflexão ela pouco importa. O importante é que eu lembrei o motivo da briga, do desespero que transbordava em lágrima.

Na entrada da maioridade escrevi sobre os “resignados”, que eram a minha versão de pessoa madura; alguém que tinha abandonado seus sonhos. Maturidade era arranjar um emprego (de preferência estável), ter amigos influentes (mesmo que isso implicasse em vênias baixas de expor o cu ao vento) e gastar o tempo que sobrasse dessa vida de bajulação e conformação exterior procurando prazer em sexo e orgulho sobre bens materiais.

Minha briga era na verdade uma resistência à idéia de que a transição para a vida adulta significava aceitar a realidade de um materialismo cínico e medíocre.

O ponto é que, longe desse ter sido um erro de percepção puro e simples da minha mente juvenil, a idéia da maturidade como o sacrifício de suas aspirações no altar da mediocridade é, de fato uma idéia séria e corrente na sociedade; criando um estado de coisas onde todos os esforços do indivíduo só fazem sentido se direcionados para atingir algum objetivo desse esquema de vida miserável.

E, de longe, numa percepção assim meio de fresta, essa idéia materialista de maturidade me parece na verdade - envolta numa crosta de auto enganação - uma forma extremamente elaborada de depressão.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sworn in the Metal Wind

Na minha escala de humor existe um ponto que buzina e pisca em vermelho, onde se lê: "Ouvindo Lost Horizon".

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Sendo xarope...

Divine Image
William Blake

To Mercy, Pity, Peace, and Love,
All pray in their distress,
And to these virtues of delight
Return their thankfulness.
For Mercy, Pity, Peace, and Love,
Is God our Father dear;
And Mercy, Pity, Peace, and Love,
Is man, his child and care.
For Mercy has a human heart
Pity, a human face;
And Love, the human form divine;
And Peace, the human dress.
Then every man, of every clime,
That prays in his distress,
Prays to the human form divine:
Love, Mercy, Pity, Peace.
And all must love the human form,
In heathen, Turk, or Jew.
Where Mercy, Love, and Pity dwell,
There God is dwelling too.

Esse blog é um jogo. Eu devia fechar as postagens e escrever apenas para mim mesmo. Mas não. Vou deixar aberto como cova em cemitério abandonado. Quem sabe, se admirando minha tela de céu emoldurada em terra, não vejo um estranho passar: a quem acenaria com mão de esqueletinho.

O ponto do post é que comecei a ler The Marriage of Heaven and Hell. Nas primeiras páginas cheguei a conclusão de que o trambolho era demais pra mim, e a coisa mais sensata a se fazer era tomar o livro igual xarope amargo: lendo tudo de uma vez, tão rápido quanto o possível, evitando apenas engasgar. O fato é que lá pela metade do livro, eu percebi que estava entendendo alguma coisa. E... essa coisa parece estar presente em quase tudo que vi de Blake sobre religião.

Enfim. Nota ao meu eu do futuro, que pode estar lendo isso aqui neste momento. Eu não vou tentar explicar, nem ia conseguir se tentasse; mas se tu tiveres dúvidas mais alguma vez sobre o foco exagerado no espírito: William Blake de guti guti.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Reflexões de abismo raso de dar pézinho

São quase 4 anos e meio desde a última postagem. Desde lá não lembro de uma só vez em que me tenha apanhado com vontade de escrever por aqui qualquer coisa que seja. Pensando no motivo... eu acredito, firmemente, que nesses últimos anos eu não tenha me sentido solitário. Não sozinho, coisa até bem vinda de vez em sempre; Reitero: solitário.