quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Um Livro Antigo

Comprei-o há dois dias. A capa em tecido rosado e machucado conta bem a idade da peça que, editada em Portugal há um século e seis anos idos, atravessou mãos e um oceano até sorrir-me aqui nesta ilha, da qual contam antigas grandezas intelectuais e me parece nada senão uma província confortável mas erma aos espíritos, que é a terra de São Luís. Nas páginas, que de sua cor de chá preto exalam o charme de um século, leio a delicada assinatura de um de seus antigos donos: “Tancredo Mattos”, traçada à bico de pena com a precisão e graça das caligrafias antigas; sei então o nome do homem, agora espírito, que através de poucas e nada intrusivas notas de leitura irá acompanhar-me ao longo do livro. Como numa ironia sútil que ao homem não é dado perceber a não ser pelo desenrolar dos séculos que dele se riem, as primeiras palavras do livro reproduzem a própria situação do velho tomo que resgatei em meio a seus companheiros de estante cem anos mais novos:
“Como debaixo dos pés de cada geração que passa na terra dormem as cinzas de muitas gerações que a precederam, assim debaixo dos fundamentos de cada cidade grande e populosa das velhas nações da Europa jazem alastrados os ossos da cidade que precedeu a que existe. Como de paes a filhos as diversas gerações se continuam e entretecem sem divisão, semelhantes à túnica inconsutil do Christo, assim a cidade antiga se transmuda imprerceptivelmente na nova cidade; e como o octogenario, na vizinhança do túmulo, não vê à roda de si, nem pae, nem irmãos, nem amigos da infancia, mas filhos, mas netos, mas existencias todas virentes, todas cheias de vida, e sente com amargura que o seu século já repousa em paz e espera por elle que tarda, assim o último edificio da cidade que passou, quando pendido ameaça desabar, olhando à roda de si não vê nenhum daquelles que, ahi perto, campeavam senhoris e formosos no tempo em que elle tambem o era.”
Com um arrepio na espinha fechei o livro e dediquei-lhe em reverência um longo minuto de silêncio. Pelos sonhos de Alexandre Herculano me é possível ser dirigido através deste livro e, sob o olhar terno e exigente de seu tomo que ameaça desabar, sinto o peso dos olhares de muitas gerações a mim anteriores. O livro, agora sobre a estante, continua a me encarar, enquanto isso eu tento encontrar em mim, em algum ponto nebuloso, uma certa virtude especial com a qual me devo dedicar a sua leitura, em suma, uma nova abordagem sobre tudo quanto tentei praticar até hoje como atividade intelectual.

Por enquanto, como um moleque culpado, desvio o olhos como posso.

PS.: Quase um mês depois, quando acreditava assentado o espanto relatado acima: abro novamente o livro. Dessa vez para lê-lo por completo, mas mal termino o primeiro parágrafo do prefácio e meus olhos já estão inquietos, como que querendo verter lágrimas de admiração pelas impressões relatadas na magistral prosa de Alexandre Herculano.

sábado, 25 de julho de 2009

Mapa de “Eurico, o Presbítero”

Aqui vai um post singelo. Enquanto lia “Euríco, o Presbítero”, de Alexadre Herculano, fui marcando num Google Map os principais locais citados na primeira parte do livro para ter noção do desenrolar dos fatos. Como o site é público e permite-me, ao esforço de um link, direcionar outros interessados ao mapa; como este será mais facilmente encontrado pelo google através desse post; e como é possível que outros editem o mapa para enriquecê-lo (ou corrigí-lo se necessário), não faria mal nenhum em pregar este bilhete aqui.


Visualizar Mapa de "Euríco, o Presbítero" em um mapa maior

Estão marcadas apenas as localidades mencionadas até a batalha do Críssius. São elas: Toletum (Toledo), Emérita (Mérida), Cordúba (Córdoba), Híspalis (Sevilha), Críssius (Guadalete), Gades (Cádis), Asido (Medina-Sidonia), Cartéia, Ilha Verde (Algezíras), Calpe (Gibraltar), Septum (Sebta, ou Ceuta), Bética.

Link: Mapa de “Eurico, o Presbítero”

sábado, 27 de junho de 2009

Chegou! E é lindo!

Senti-me um verme por ter pago apenas R$200,00. Abrindo e lendo um tanto, senti-me pior ainda.

A quem interessar:
http://www16.senado.gov.br/livraria/produtos.asp?produto=402

O site é do senado, mas eu garanto que é de confiança.

terça-feira, 23 de junho de 2009

“Right where I belonged”

Andei por esses dias lendo alguns contos distópicos de Kurt Vonnegut. Vale citá-los. Harrison Bergeron, disponível online, onde a sociedade leva o igualitarismo quase às últimas consequências; e 2 B R 0 2 B, também online, sobre um futuro onde a humanidade foi “curada” de todo os males biológicos, como o envelhecimento.

Foi o suficiente para despertar em mim uma certa curiosidade sobre o autor. Lendo algumas de suas entrevistas, descobri que é um sujeito de simplicidade intrigante, e que não é fácil entendê-lo. Fiquei encantado pelo seu humor, e estranhei bastante o seu “humanismo”. Mas vou deixar comentários sobre Vonnegut para outra data, hoje quero apenas colar aqui um trechinho (longo...) de uma entrevista, sobre coisas que, sim sim, são muitíssimo interessantes:
Q: When I was reading Dr. Kevorkian, I was reminded a bit of a Japanese film from a couple years ago called "Afterlife."

Vonnegut: I haven't heard of it.

Q: Its premise is that those who have recently died are taken to a waiting room for one week, during which time they must choose only a single memory from their entire lives which will endlessly replay for them, while all of their other memories are erased.

Vonnegut: So everybody's fucking, right?

Q: See, that's the peculiar thing. Maybe in your world or mine, everybody's fucking. But in this movie, some of the memories are much simpler, almost elegant. Many people can't choose a memory at all.

Vonnegut: See, that's a whole different culture. I don't know anything about it.

Q: Any idea what memory you might choose?

Vonnegut: [Long pause] I think it would be the moment where I was doing everything right, where I was beyond criticism. It was back in World War II. It was snowing, but everything was black. The trucks were rolling in. I was surrounded by my buddies. And my rifle was between my knees, my helmet on my head. I was ready for anything. And I was right where I belonged. That would be the moment. It would have to be the moment.

Q: There are not many moments in a man's life like that, I would imagine.

Vonnegut: No. But you know who gets those kinds of moments all the time? A musician. They're doing exactly what they're supposed to do. I look at a symphony orchestra and everybody's doing exactly right. How the fuck do they do that? It's like watching somebody's who's just inherited a big bunch of money. "Well, enjoy yourself.... I'm just gonna fuck off — you know what I'm saying."
Entrevista completa em: http://www.mcsweeneys.net/2002/09/16vonnegut1.html

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Melhor resenha já escrita

"This is one of those books that makes you ponder the deep mysteries of existence. Such as: since life is so short, why did I just waste five hours of it reading this drivel?"

sábado, 13 de junho de 2009

Um ária ao Cântico

Vai, deixa-me ser um perfeito imbecil. Sou um rapaz de 22 anos notando a grandeza da Bíblia em obra de ficção científica. Mencken que me olhe duplamente torto daí do post logo abaixo. Dane-se!, orelhudo. Leio atualmente A Canticle For Leibowitz - cujo autor é quase tão interessante quanto o próprio livro - e volta e meia sou assaltado por coisas como a que descreverei após uma breve contextualização.

O livro acontece em um período pós guerra nuclear, os restos de civilização espalham-se por desertos e quase todo o conhecimento acumulado pelas gerações anteriores foi destruído por movimentos que espiaram nos intelectuais as causas da ruína da humanidade. O mundo vive uma nova era medieval e a narrativa centra-se em um mosteiro que busca preservar o pouco do conhecimento que se pôde salvar até que surja no mundo um gênio capaz de reconectar com a atualidade os vestígios da civilização anterior. Esse cenário já é interessante, mas não há aí ainda nada de extraordinário. Calma lá!, já chego ao ponto, eu não me surpreenderia com um Mad Max monástico.

A grande sacada do livro é o tratamento dado aos ciclos da história humana. Quase todos os fatos desse mundo pós-nuclear têm um acontecimento gêmeo já tratado na bíblia, cuidadosamente referenciado através de símbolos sutis incorporados à narrativa. É inevitável a vontade de a partir daí comparar elementos da história recente com esse espelho bíblico. Eis que no livro há um momento - que obscurecerei para que não espolie a leitura alheia - em que paira a ameaça imperialista de um grande reino secular, um dos personagens então diz:
“Manassés, Ciro, Nabucodonosor, Faraó, César, Fulaninho da Coves – preciso continuar? Samuel nos alertou sobre eles, então nos deu um.”
Em 1 Samuel 8 está o fato referenciado. Tendo recebido dos anciões de Israel a incumbência de indicar um rei secular, Samuel tenta dissuadir o povo da idéia explicando a eles os problemas de um governo desse tipo (1Samuel 8.10-18). É incrível a acuidade profética com que esses desastres são descritos, todos eles estão muito recentes na memória dos despertos desse século - esses que se lembram ainda do início do século anterior. Continuando:
Porém o povo não atendeu à voz de Samuel e disse: Não! Mas teremos um rei sobre nós. Para que sejamos também como todas as nações; o nosso rei poderá governar-nos, sair adiante de nós e fazer as nossas guerras. (1Samuel 8.19-20)
O povo rejeita os avisos, como sempre tem rejeitado ao longo do tempo, cioso que é por poder secular.

Enfim, A Canticle for Leibowitz não é apenas uma narrativa sobre os ciclos tecnológicos de barbarismo e ascensão da história humana, como já vi em outras resenhas, mas dos ciclos da história humana como um todo, pintados na constante permuta simbólica entre Deus e coisas seculares.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Mencken e a Democracia

Não conheço quem tenha melhor fraseado a Democracia, Mencken tem as melhores tiradas. Com a ajuda desse site - e de algumas anotações próprias - separei uma lista com algumas de suas melhores citações sobre o assunto (começando com a minha preferida):

"Democracy is the art of running the circus from the monkey cage."

"Democracy is a pathetic belief in the collective wisdom of individual ignorance."


"Democracy is the theory that the common people know what they want and deserve to get it good and hard."

"Under democracy one party always devotes its chief energies to trying to prove that the other party is unfit to rule - and both commonly succeed, and are right."

"As democracy is perfected, the office of president represents, more and more closely, the inner soul of the people. On some great and glorious day the plain folks of the land will reach their heart's desire at last and the White House will be adorned by a downright moron."


— H. L. Mencken

sábado, 30 de maio de 2009

Blake, flautista mágico

Há algo mesmo de mágico, muito mágico, em William Blake. Tão verdadeiramente mágico, hipnótico, que, lendo seus originais de Songs of Innocence and of Experience graças à maravilha deste site, arrodeado pela caligrafia e desenhos do próprio autor, sinto-me impelido a catar uma flauta e sair por retraduzindo seus poemas em notas musicais.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Hereges hematófatos

Sofro um bocado com os mosquitos que habitam o altar que fiz para este meu computador. Esses hereges imundos parecem saber que em todas as noites há pernas suculentas a chupar abaixo da mesa. Este é o meu altar, dessacrado. E como nenhum altar está completo sem vela, para o meu comprei esta em cuja embalagem leio: "Vela de andiroba para combate a dengue, mosquitos, insetos...". Acendo e coloco a oferenda próxima ao pé da cadeira. Mas os hereges são fortes, continuam o assédio. Ponho a vela sobre a mesa, como que para fazer a ela uma reprimenda. Não demora muito e um mosquito pousa na bendita. Acho que não entendi muito bem essa coisa toda. Se a fumaça não funciona, a intenção da vela só pode ser a de uma advertência textual.

Hereges iletrados!... voltei ao tempo em que se resolvia heresia com tapa.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

“Obçession”

Ao fim do ano passado, por volta de setembro, deparou-se com um fato estranho. Quando recolecionava suas memórias e as tentava traduzir em linguagem, o fazia com mais habilidade em inglês do que no português. Nunca vivera um mês sequer abroad. Também não era exímio conhecedor da língua inglesa, era dela apenas um bom leitor. Um bom leitor, e olhe lá! Mas tão logo buscava expressão, a encontrava com mais facilidade na confusão mental d'um inglês embananado do que na própria língua pátria. Sonhava em inglês, às vezes pegava-se respondendo em inglês a questões íntimas.

Sua própria conversa interior dava-se na língua de Poe e Carroll, e a razão disto sabia de cor: passara coisa de dois anos lendo tudo quanto podia em inglês. Não dava confiança aos autores nacionais, apesar de ter deles pouco conhecimento, e os autores que lhe eram comuns eram todos ingleses. Os que escapavam a essa regra os lia em sua tradução para o inglês. Um dia notou-se perigosamente próximo ao abismo do absurdo quando, apresentando a um amigo a versão que degustava de Revolt of the Masses, fora questionado sobre o motivo de não lê-la no original em espanhol, que era afinal muito mais próximo do português. Notou-se então quase materializando a brincadeira que fazia quando liminarmente consciente de seu estrangeirismo. Um dia estaria lendo autores nacionais traduzidos em língua estrangeira.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Verborragia irritante...

Começo a ler um texto que me é requerido por uma das disciplinas do meu curso de Desenho Industrial na UFMA.
Apesar de design e styling serem duas disciplinas totalmente distintas...
Pára, pára, pára. Como assim totalmente distintas? Totalmente mesmo? Nada de semelhante? Nada em que se possam comparar? Puxa, eu que tinha como passatempo mental na infância encontrar semelhanças entre bananas e cometas, picolés e dinossauros, acho bastante esquisito que o styling (uma preocupação estética que visa o consumo do produto) seja totalmente distinto logo do design. Mas, mais esquisito ainda é o trecho seguinte:
o styling é muitas vezes complementar do design.
Como coisas totalmente distintas entre si podem ser complementares? Isso não significaria que são indistintas em sua finalidade, no objeto a que se aplicam, ou em alguma coisinha ao menos?

É claro que o sujeito que escreveu esse texto nem sequer pensou no assunto, largou a mão a moldar a bosta e em seguida publicou-a em livro, que foi lido e recomendado posteriormente por professores aos seus alunos.

O erro desse autor poderia passar como coisa menor, probleminha a toa, mas não é. É um fenômeno amplo e irritante a quantidade de textos universitários que são permeados de expressões absurdas. Fica claro que os sujeitos que os escrevem não pensam na expressão real daquilo que estão escrevendo, ou, se pensam, não têm a menor preocupação de traduzir fidedignamente esse pensamento em linguagem. Sendo assim, vai caber logo a mim, aluno, rejuntar esse quebra-cabeças dadaísta e formar algo coerente?

A loucura continua:
O styling diz respeito ao tratamento e aparência da superfície - as qualidades expressivas de um produto. Pelo contrário, o design diz basicamente respeito à resolução de problemas - tende a ser holístico na sua finalidade e geralmente procura simplicidade e o que é essencial nos produtos.
Não vou me perder argumentando ou apontando mais verborragias, vou apenas fazer uma pergunta e seguir a partir dela. Se há um problema exposto pelo seguinte enunciado: "como tornarei este produto mais atraente?", isto é algo a ser resolvido pelo styling ou pelo design? Acrescento: não antecede a toda a atividade de styling o problema destacado? Como isto é verdadeiro, logo toda atividade de styling também é guiada por um problema referente a um produto, com a limitação que esse problema é sempre refente a capacidade de atração que tem o produto sobre seus possíveis compradores, e como todo produto industrial não prescinde de seus compradores (e como o designer vive no éter) a capacidade de atração de um produto é uma de suas características essenciais. Tomando então o design como a resolução de problemas essenciais referentes a produtos, o styling está contido no design do modo como é descrito pelo autor. Concluindo isto, como explicar que o próprio autor diga que o design e o styling têm preocupações contrárias?

A distância do autor com a realidade fica mais patente adiante. Dado um certo ponto conclui:
... o design (racionalismo) tende a tomar a dianteira em ciclos econômicos negativos, equanto que (sic) o styling (anti-racionalismo) tende a florescer em períodos de prosperidade. O styling começou a ter expressão na década de 20 com o florescimento da Art Deco, e em finais dos anos 30 e 40.
A primeira coisa que chama a atenção é essa história do design florescer em momentos de crise e o styling em momentos de prosperidade. O mesmíssimo autor, algumas páginas antes, diz que o streamlining (que é uma derivação do styling), surgiu e prosperou nos anos subsequentes ao crash de 1929. Ele ao menos lê o que escreve?

Abra-se agora um parênteses para mais verborragia. O autor diz que o design começou a ter expressão nos anos 20 e "em finais dos anos 30 e 40". Que dizer que ele começou duas vezes? Nos anos 20 e depois no fim dos 30 e 40? Ou seriam três vezes? Nos anos 20, no fim dos 30 e no fim dos 40? Ou por no fim dos 30 e 40 quis se referir ao período representado por ambos? Sendo assim, qual o motivo de não dizer apenas "em finais dos anos 40"? Claro que é mais uma bobagem.

A segunda coisa que chama a atenção no trecho destacado é essa coisa, racionalismo vs. anti-racionalismo, definindo o design como uma atividade racional e o styling como anti-racional. Mesmo tomando racionalismo e anti-racionalismo com uma certa frouxeza, poderia-se dizer logo que: sendo uma área do design, que aqui é dado como algo racional, o styling não poderia ser irracional sem que se fizesse a concessão de que o design não é todo racional afinal. Daí sobraria "anti-racional" apenas como figura de linguagem para dizer que o styling tem um foco emocional (e ponto).

Lendo integralmente o texto sou levado a crer que, no fundo, chamar o styling de anti-racional e colocá-lo em oposição ao próprio design foi, desde o início do texto, apenas um meio de expressar desgostos - algo como chamá-lo de feio, chato, bobo e excluí-lo da brincadeira - hábito provavelmente adquirido na leitura dos teoristas da coisa do design para uma nova ordem social (coisa que pretendo estudar adiante). Especulações à parte, de agora em diante, quando um autor desses disser design, entenda por uma equação de design menos as preocupações do campo do styling, e styling por styling mesmo.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Four Yorkshiremen Sketch

Uma curta piada do grupo Monty Python.

Four well-dressed men sitting together at a vacation resort.
Michael Palin: Ahh.. Very passable, this, very passable.
Graham Chapman: Nothing like a good glass of Chateau de Chassilier wine, ay Gessiah?
Terry Gilliam: You're right there Obediah.
Eric Idle: Who'd a thought thirty years ago we'd all be sittin' here drinking Chateau de Chassilier wine?
MP: Aye. In them days, we'd a' been glad to have the price of a cup o' tea.
GC: A cup ' COLD tea.
EI: Without milk or sugar.
TG: OR tea!
MP: In a filthy, cracked cup.
EI: We never used to have a cup. We used to have to drink out of a rolled up newspaper.
GC: The best WE could manage was to suck on a piece of damp cloth.
TG: But you know, we were happy in those days, though we were poor.
MP: Aye. BECAUSE we were poor. My old Dad used to say to me, "Money doesn't buy you happiness."
EI: 'E was right. I was happier then and I had NOTHIN'. We used to live in this tiiiny old house, with greaaaaat big holes in the roof.
GC: House? You were lucky to have a HOUSE! We used to live in one room, all hundred and twenty-six of us, no furniture. Half the floor was missing; we were all huddled together in one corner for fear of FALLING!
TG: You were lucky to have a ROOM! *We* used to have to live in a corridor!
MP: Ohhhh we used to DREAM of livin' in a corridor! Woulda' been a palace to us. We used to live in an old water tank on a rubbish tip. We got woken up every morning by having a load of rotting fish dumped all over us! House!? Hmph.
EI: Well when I say "house" it was only a hole in the ground covered by a piece of tarpolin, but it was a house to US.
GC: We were evicted from *our* hole in the ground; we had to go and live in a lake!
TG: You were lucky to have a LAKE! There were a hundred and sixty of us living in a small shoebox in the middle of the road.
MP: Cardboard box?
TG: Aye.
MP: You were lucky. We lived for three months in a brown paper bag in a septic tank. We used to have to get up at six o'clock in the morning, clean the bag, eat a crust of stale bread, go to work down mill for fourteen hours a day week in-week out. When we got home, out Dad would thrash us to sleep with his belt!
GC: Luxury. We used to have to get out of the lake at three o'clock in the morning, clean the lake, eat a handful of hot gravel, go to work at the mill every day for tuppence a month, come home, and Dad would beat us around the head and neck with a broken bottle, if we were LUCKY!
TG: Well we had it tough. We used to have to get up out of the shoebox at twelve o'clock at night, and LICK the road clean with our tongues. We had half a handful of freezing cold gravel, worked twenty-four hours a day at the mill for fourpence every six years, and when we got home, our Dad would slice us in two with a bread knife.
EI: Right. I had to get up in the morning at ten o'clock at night, half an hour before I went to bed, (pause for laughter), eat a lump of cold poison, work twenty-nine hours a day down mill, and pay mill owner for permission to come to work, and when we got home, our Dad would kill us, and dance about on our graves singing "Hallelujah."
MP: But you try and tell the young people today that... and they won't believe ya'.
ALL: Nope, nope...

Fonte: http://www.davidpbrown.co.uk/jokes/monty-python-four-yorkshiremen.html

sexta-feira, 15 de maio de 2009

The Roundabout... round and round

Caso recente:
Contou-me um pouco sobre seu passado, um pouco sobre sua vida. Falou a respeito de como se relacionava com sua família quando criança, falou de como se relacionava com os colegas na fase seguinte, chegou finalmente a como se relaciona atualmente com as pessoas. Notei uma cadência na linguagem, um crescendo otimista na narrativa pessoal, algo que parecia querer encerrar-se num brado de louvor àquilo que é atualmente. E eu, que ouvia tudo com atenção, enxergava a mesma coisa repetida, fase após fase, fantasiosamente renovada sob uma nova pá de cal. A mim, a criança com que iniciou sua história nunca havia ido a lugar algum, jazia emparedada sob uma massiva quantidade do mesmíssimo erro reinventado e esquecido em um processo já incosciente de autoengano.
Sempre me pareceu mesmo que certas sombras de nós mesmo são mais facilmente visíveis a partir de uma observação externa. Observação que pode ser simulada a partir da própria consciência. Sem isso corre-se o risco de ficar feito biruta girando ao sabor dos quatro ventos, nunca capaz de tornar ao próprio eixo. Mas, o que eu nunca havia imaginado em qualquer outra fase da vida - e que tem apenas distante relação com o trecho acima - é que o observador, quando não é ao menos tomado sinceramente por onisciente, é absorvido pela consciência, caindo assim na mesma malha de autoengano.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Sobre o intervalo

Há épocas em que me descubro um sujeito majestaticamente burro, bem mais que o normal. Nessas épocas fico mais calado. Mas... apesar de estar mesmo em um desses períodos, não é esse o motivo do hiato, acontece que passei um bom tempo sem internet.

Em breve volto a bater os cascos no teclado.

sábado, 2 de maio de 2009

Vote na realidade

Ontem. Voltava eu da universidade com uma doçura de amiga. Conversávamos qualquer uma dessas frivolidades por todos conhecidas, que, mesmo ocas feito bexigas, servem ao menos de gancho para compartilhar alguns momentinhos com uma pessoa querida. Sei que logo nos caímos a falar a respeito de um boleto bancário que trazia comigo. Expliquei tratar-se da minha mensalidade no curso do Seminário de Filosofia, de Olavo de Carvalho. Disse isso e botei-me atento aos olhos da amiga, esperando, e até desejando, que o filósofo fosse por ela reconhecido. Pela nulidade com que recebeu o nome, afirmo com toda certeza que não era. Nada daquele espanto de (a) imenso apreço, ou de (b) freira ante um blásfemo, que a citação do maldito causa a quem o conhece ao menos um tantinho.

Mas, a prova mais cabal de que ela nunca havia ouvido falar no sujeito veio em seguida. Perguntou-me por que então eu não cursava filosofia na universidade. Ri um pouco enquanto me vinham algumas lembranças.

Lá nos tempos há muito idos. Aliás, nem tão idos assim, já que um ano e meio é um cuspe de tempo para um rapaz de vinte e poucos anos. Enfim, lá pela época onde eu ainda acreditava possível adquirir alguma formação humanística naquele covil, encontrava-me numa aula de filosofia (pelo curso de Relações Públicas), sentando em uma das cadeiras que compunham um grande círculo de discussão. Pegado de tédio, e já tendo suportado coisa de uma hora de massacre, eu pensaneava distraído enquanto a professora nos lia alguns textos em compasso hipnótico, vez ou outra citava Marilena Chauí e incitava debates marcados por pura falta de conhecimento sobre o que quer que se discutisse.

Mas eis que num dado momento a coisa toma uma proporção tão estrondosa que me desperta. Fala-se a respeito de como certas coisas (no caso, tecnológicas) eram impensáveis para os homens em dados momentos da história, e no entanto nos são cotidianas. Daí em diante a coisa segue firulando, até que, num momento de epifânia, a professora conclui diante de todos, e de um Caio pasmo, que é possível pensar algo impensável. Chegado esse ponto eu me meti na peleja. Sugeri delimitar melhor a frase ou procurar uma palavra mais adequada a proposição. Perguntei, “pois algo impensável não é, por definição, impensável?”. Devia ter ficado quieto. A coisa deve ter soado bastante exótica, notei pelo silêncio. Mas logo a marcha dos horrores continuou, tornou-se furiosa, e num esforço coletivo, seguindo o impropério da dona docente, todos passaram a procurar pensar coisas impensáveis (!) para me provar errado. Júlio Verne e Isaac Asimov, que ouviram seus nomes alucinadamente citados, gemeram de angústia.

Já é bastante ridículo que se use de todo tipo de malabarismo de linguagem com o mero e bobíssimo intuito de montar proposições aparentemente contraditórias, como Saussure trocando de sujeito para criar a mutabilidade e imutabilidade do signo. Mas, pior ainda é não perceber o enxerto e passar a interpretar o ovo de cuco no sentido literal.

Demorou ainda um tempo até que eu pudesse balbuciar novamente, trêmulo feito um condenado pedindo perdão, que se algo impensável é, por definição, impensável, então qualquer coisa que eles tenham pensado nunca foi impensável afinal. A coisa encerrou-se por aí. A professora interrompeu, e deve ter ficada maravilhada mesmo com a minha novidade, pois, nas suas próprias palavras, achou a minha “opinião (!) muito interessante”.

No fim das contas, saíram todos de sala com a cabeça tranquila, em maioria, e inafetados por esse defeito que o mundo real tem de querer fazer sentido. Votaram sobre a estrutura da realidade, venceram, e saíram muito felizes. Só eu é que saí um pouco desconcertado, com fama de doido e de cabeça dura.

Não cheguei a contar esse caso para a minha amiga... que a essa altura já estava bastante curiosa em saber o motivo pelo qual eu sorria.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Triplo Carpado Racial




"Já disseram que essa lei, uma vez aprovada, estaria legitimando o racismo, mas não consigo entender o porquê. Ao contrário, não aprová-la é que é uma atitude racista"
Senadora Serys Slhessarenko (PT-MT)



Isto foi a respeito da PLC 180/08, que estabelece cotas raciais para ingresso nas universidades públicas.

Achei lindo o triplo carpado da senadora, só não entendi essa história de aterrissar de cara no chão. Vá lá, pela foto é possível supor que a Mortícia aí tem prática.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Reviranças

Revirei o layout do blog. Terminei assim, com algo bem simples e elegante, coisa que mal tem a ver comigo, mas que... hum... ia dizer "gosto assim mesmo". Mas seria estranho, então... hum... apenas "gosto (e ponto)".

Voltando, gosto de layouts assim. Poucas linhas, bastante blank space, e escala monocromática, às vezes pincelada com uma outra cor. Algo desse tipo dificilmente sai errado.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Emily Bindiger e certos acidentes

Já há muito tempo ouço um pouco de See-Saw. Conheci a banda por acaso, através da trilha sonora do anime .hack//Sign, e diferente da maioria das coisas que minha adolescência me legou, ainda acho essas músicas maravilhosas. Mas, estranhamente, quase tudo quanto se encontra de See-Saw além de raras excessões é de um poprock japonês medonho. O segredo das boas músicas da banda está em um fato do qual só me dei conta há pouco. A maior parte delas é interpretada por Emily Bindiger.

Música da trilha de .hack//Sign. See-Saw com os vocais maravilhosos de Emily Bindiger:

Música de Yoko Kanno da trilha sonora de Cowboy Bebop, também com vocais de Emily Bindiger:

E o atual projeto do qual Emily Bindiger participa em turnê, The Accidentals:

domingo, 19 de abril de 2009

Design em favor do terrorismo?

É fato óbvio que quase toda classe artística acredita que a pertinência a esse seleto grupo implica na obrigação de utilizar a sua obra e prestígio de forma "socialmente crítica". Creem ser um imperativo moral portar certos estandartes ideológicos. É a praga do artista engajado.

Sempre achei que o galho artístico que o design estende era uma ponte para essa desgraça. Eu tinha razão. Em uma rápida busca encontrei uma dúzia de sites dedicados ao design-ativismo. Naveguei algum tempo rindo das babaquices "inovadoras" de desobediência civil que alguns relatavam. Mas logo logo me deparei com esse pavão de estupidez humana:
http://www.guerrilla-innovation.com/archives/2006/01/000472.php

Acabou a graça.

Fighters+Lovers é uma companhia dinamarquesa que cria produtos estampados com mensagens de apoio às FARC e terroristas palestinos. Mais do que isso, até o início de 2006, a empresa anunciava que para cada camisa vendida, 5 euros eram doados aos dois grupos. Desde a sua criação a companhia foi alvo de protestos na Colombia e em Israel e recebeu uma série de ações judiciais. Os dois argumentos mais comumente usados em defesa desses filoterroristas, assassinos by proxy, variam entre (a) a ressalva cínica de que as doações eram destinadas apenas a atividades não violentas, e (b) a declaração de que a luta dos dois grupos sanguinários é justa. Isso tudo amarrado ao suposto direito democrático de foder com a democracia própria e alheia.

O primeiro argumento só passa mesmo pela garganta de um jumento. Ainda que a Fighters+Lovers fosse capaz provar por a+b que o investimento da doação seria não violento, trataria-se de um engodo. Imagine que seu vizinho ofereça abrigo, comida e roupa lavada a um bando de assaltantes enquanto estes planejam invadir a sua casa. Imagine também que ele faça isso plenamente ciente das intenções de seus inquilinos. De que importa se o seu vizinho estava ou não planejando pegar uma arma e se juntar aos bandidos? Ao fornecer direta e conscientemente os meios para a prática do crime, é claro que tanto o seu vizinho hipotético quanto os filoterroristas dinamarqueses da Fighter+Lovers são diretamente responsáveis por qualquer ato praticado por seus apadrinhados.

Já o segundo argumento vem logo acompanhado da velha brutal permuta lógica, que torna o povo Israelense e Colombiano os reais agressores das doçuras que são os terroristas. As FARC por exemplo querem apenas tornar a Colômbia sei lá... uma grande Disneyland onde todos andam de graça nos brinquedos e comem cachorro-quente até fartar (Pinóquio alguém?). Que mal tem se matam, sequestram e extorquem alguns milhares de pessoas para isso?

Pergunte-se agora. Se a Fighters+Lovers acha que luta terrorista é justa, pra quê declarar que doa dinheiro apenas para atividades não violentas? Os dois argumentos em defesa da companhia são mutuamente exclusivos, uma prestidigitação covarde para distrair o leitor enquanto derrama um véu de seda sob a conclusão óbvia de que Fighters+Lovers e todos os seus clientes, além de serem cúmplices, apoiam o banho de sangue praticado pelas FARC e por terroristas palestinos.

No mês passado, 25 de Março de 2009, a Suprema Corte Dinamarquesa condenou 6 dos 7 membros da empresa à cadeia por apoio ao terrorismo. Ótimo? Não. A merda da pena é de meros 2 a 6 meses de prisão condicional. Quer mais? O site deles continua no ar, vendendo livremente o seu material subversivo. Talvez ainda fazendo doações secretas, quem sabe?

PS.: Não vou dar o endereço o site da Fighters+Lovers aqui para não dar audiência direta, use um buscador se quiser confirmar.

sábado, 11 de abril de 2009

Blogcida Confesso e Reincidente

Cá estava eu - diga-se de passagem, com uma puta dor de cabeça que já dura 2 dias - lendo posts antigos de blogueiros antigos. Blogs que variam entre 4 ou 5 anos de persistência. Admiro essa gente. Fico imaginando se isso tudo é fruto de uma disciplina que beira o auto-flagelo ou daquele mesmo pixie tremeluzente que pipoca sobre o meu ombro e não para de zumbir "thiizzzz is great! Write it, write it down!" enquanto não abro o notepad e começo a teclar.

Meus blogs não costumam durar muito tempo. Em algum ponto do segundo semestre todos experimentam períodos progressivos de seca, até que a minha água barrenta falta de vez e, em desesperado esforço de sobrevida, são obrigados a beber os próprios sapatos. Acabam morrendo pouco depois do primeiro aniversário. Mas não é algo que eu lamente. Na verdade, danço de alegria na cova de cada um deles. Tenho uma ala inteirinha no cemitério para os meus blogs juvenis, e para esses a dança é especialmente animada.

Hum... creio que esse não é um bom jeito de se começa um blog. Venho aqui como um sujeito adentrando uma loja e calmamente alertando a todos sobre o meu passado de assaltante penta reincidente. Estou avisando, vou reincidir. Não tenho nenhuma esperança ou promessa de longevidade para este blog. Mas tenho, na verdade, uma vontade muitíssimo mais ousada, e creio que até ingênua. Muito muito! Quero que um dia, daqui a uns 5 anos, frente a lápide do “Gazuas”, não tenha vontade de cuspir-lhe a cova.